terça-feira, 1 de julho de 2008

Matéria publicada pelo jornal Estado de São Paulo sobre a demanda mundial pelo minério do Quadrilátero Ferrífero Mineiro




Boom chinês agita interior de Minas

Forte demanda por minério brasileiro produz novo ciclo de prosperidade no Quadrilátero Ferrífero do Estado
Eduardo Kattah
Domingo, 22 junho de 2008


A onda de investimentos em minério de ferro e aço, insumos que encabeçam os indicadores industriais de Minas Gerais, está produzindo uma revolução em pequenas e médias cidades e criando novas geografias de desenvolvimento na região central do Estado. A demanda asiática, principalmente chinesa, pelo minério de ferro provocou uma frenética corrida entre gigantes da siderurgia e mineração pelos últimos grandes depósitos do chamado Quadrilátero Ferrífero. A expansão mundial da indústria de petróleo e gás, construção civil, indústria automobilística, entre outros segmentos, fez nascer um novo ciclo do aço no território mineiro.

Na siderurgia, o novo pólo do desenvolvimento está simbolizado na pequena Jeceaba, cidadezinha de 6,5 mil habitantes, a 124 quilômetros de Belo Horizonte. Lá, os trabalhos de terraplenagem e os levantamentos topográficos já foram iniciados para a instalação de um distrito industrial para abrigar a usina siderúrgica da joint venture entre a francesa Vallourec e a japonesa Sumitomo Metals - Vallourec&Sumitomo Tubos do Brasil (VSB) -, além de empresas de grande e médio portes.

Somente o investimento de US$ 1,6 bilhão da VSB na implantação da usina integrada de aço elevará a produção do Estado de 12,8 milhões de toneladas/ano para quase 14 milhões de toneladas/ano. A previsão é de criação de 2 mil empregos diretos e 4 mil na fase de construção. Para o governo mineiro, está nascendo ali um novo “Vale do Aço”, com a ampliação da área tradicional de produção siderúrgica no Estado, concentrada atualmente na região leste. Da produção de cerca de 1 milhão de toneladas/ano, 700 mil serão destinados a tubos de aço sem costura, cujos mercados principais são América do Norte, Oriente Médio e África.

De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, apenas a chamada região do Alto Paraopeba (onde está localizada Jeceaba, pequenos municípios vizinhos e cidades maiores como Congonhas, Ouro Branco e Conselheiro Lafaiete) responde por R$ 20,8 bilhões ou 12,5% do total de aportes industriais em execução, já executados ou anunciados no Estado no período 2003-2010.

A região foi escolhida para abrigar a planta da VSB pela facilidade de escoamento da produção, pela proximidade com fontes supridoras de matéria-prima e ligações ferroviárias. O novo distrito ficará ao lado de uma linha da MRS e nas imediações das BRs 040 e 381.

O novo pólo siderúrgico passa também pela expansão da Gerdau Açominas, em Ouro Branco, que está executando um programa de investimento da ordem de US$ 1,5 bilhão, com criação de 1,5 milhão de empregos após a conclusão. Recentemente, a siderúrgica anunciou a instalação de mais dois laminadores, de chapa grossas e perfis médios, com investimentos que somam US$ 835 milhões. As obras estão previstas para serem realizadas entre o segundo semestre do próximo ano e o início de 2010.

Os mais significativos impactos, porém, virão com a implantação, em Congonhas, da primeira usina da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Minas. Dos R$ 9,5 bilhões de investimentos da CSN no Estado, R$ 6,2 bilhões serão destinados à implantação de uma siderúrgica na cidade histórica, com capacidade instalada de 4,5 milhões de toneladas anuais de aços longos e planos. A previsão é de que o projeto gere cerca de 5 mil empregos, entre diretos e indiretos, e comece a operar em quatro anos.

Pelo programa da CSN, outros R$ 2,2 bilhões serão destinados à expansão da mina Casa de Pedra, também em Congonhas. Atualmente, no entanto, é a Serra Azul, a oeste da região central, que concentra a grande movimentação em torno dos ativos de minério de ferro. Após várias negociações, que fizeram com que antigas mineradoras independentes fossem adquiridas por grandes empresas, só duas jazidas (Minerita e MBL) continuam disponíveis.

Não são apenas elas, porém, que sofrem assédio de grandes grupos internacionais. A multinacional London Mining, que há um ano abriu nova perspectiva para a região e inaugurou suas atividades de produção com a compra da Minas Itatiaiuçu, já admite a possibilidade de venda parcial ou total de seu ativo minerário.

O Conselho da mineradora, em Londres, já designou o UBS para prestar assessoria na negociação, em conjunto com a empresa Kaupthing Singer & Friedlander. Um estudo geológico recente confirmou preliminarmente um aumento do nível de recursos da mina, acima da avaliação inicial de depósitos de 260 milhões de toneladas de minério. “A gente está avaliando se vai vender ou não esse ativo”, disse ao Estado o presidente da London Mining no Brasil, Luciano Ramos.



A indiana Tata Steel, do magnata Ratan Tata, freqüentemente é citada como possível compradora na região. A expectativa é de que em julho o empresário indiano desembarque em Belo Horizonte para avaliar a compra de jazidas de minério e um projeto siderúrgico.

“Os olhos do mundo estão para as minas de Serra Azul”, observou o diretor industrial e presidente interino da Usiminas, Omar Silva Júnior. A siderúrgica foi responsável pela mais vultosa operação de compra na região - US$ 925 milhões, em dinheiro e à vista, pela J. Mendes, composta por quatro minas, sendo uma ainda inativa.

Nenhum comentário: